Entrevista do Prof. Jaime Pinsky ao repórter Luiz Paulo S. Marcelino

Voz Principal

VP: Qual a sensação que o Sr. tem do país após a absolvição do senador Renan Calheiros?
Jaime Pinsky:A sensação que se tem é a de que muita gente tem medo de que o senador Renan abra a boca e fale sobre falcatruas envolvendo seus colegas. Se isso for verdadeiro, é tudo muito triste, pois demonstra que, ao contrário do que se imaginava, o Senado não é uma instituição tão respeitável. E as chamadas "câmaras altas", formadas por cidadãos experientes e dignos, deveria ser uma espécie de reserva moral da nação.
 
VP: Que tipo de cenário político, econômico e social o Sr. vizualiza para o Brasil? Há ainda quem acredite que somos o país do futuro?
Jaime Pinsky:Alguns de nós estão indo bem, obrigado, alguns setores da economia se desenvolvem, mas será que nossas esperanças em um país rico, justo e fraterno ainda está de pé? Está bem, foram mais de trezentos anos de Colônia, um Império para poucos, uma República tocada a trancos e barrancos e algumas ditaduras. Mas já estamos com vinte anos de democracia formal e cadê o futuro? Temos razões para temê-lo, uma vez que descobrimos ser um país em que falta lei, educação, cultura, leitores, igualdade e, parece, até um pouco de caráter.
 
VP: O que seria preciso para reverter esta situação?
Jaime: Aparentemente, experimentamos de tudo: nos últimos vinte anos testamos governos tidos como conservadores, social democratas, messiânicos, esquerdistas e até Itamar Franco. Colocamos no poder gente de bigode, sem bigode, de barba, sem barba, gente que tomava decisões intempestivamente, gente que demorava meses para decidir qualquer coisa e o resultado é que o país tem crescido menos do que a América Latina como um todo, foi ultrapassado por várias nações e continua pobre. E desigual. Sem educação adequada, sem cultura para todos, sem rumo para muitos.
 
VP: Nosso país tem jeito? Podemos, de fato, acreditar num Brasil diferente e melhor do que temos? Ou estamos condenados a servir de lastro para as naves do progresso que insistem em não se fixar por aqui?
Jaime: Não se trata, é claro, de se contentar com vitórias passageiras e aparentes, que nos são mostradas pelas máquinas de propaganda governamentais. Trata-se de pensar se o Brasil tem chances de chegar entre os mais bem colocados no campeonato mundial de desenvolvimento, justiça social, infra-estrutura, saúde e educação de qualidade para todos, eficiência, responsabilidade e honestidade no setor público (e no privado), estradas decentes, cidades organizadas, respeito ao cidadão e respeito do cidadão pelo coletivo. Num momento em que os sonhos se resumem em aparentar e consumir essas inquietações podem soar um pouco fora de época.
 
VP: Mas o que fazer? Aonde está a fé?
Jaime: Sou da geração que tinha fé. Uns confiavam na revolução, definitiva ou por etapas (antes a burguesa, depois a proletária), pelas armas ou pelo voto, a partir do campo ou da cidade. Outros acreditavam no "socialismo moreno" de Darcy Ribeiro, na "cordialidade" de Sergio Buarque de Holanda ou na "divisão do bolo" (acumulado às duras penas) de Delfim Neto. Havia até os que desenvolveram crença ingênua na Zélia do Collor ou mesmo na pirotecnia inconseqüente de tantos milagreiros que estiveram no poder ou pregavam por aí... Em nome do futuro idealizado, da utopia de cada um, já se discutiu muito, já se escreveu e discursou, já se matou e morreu. Ao contrário dos oportunistas que sempre buscaram o poder para dele se beneficiar, havia idealistas de diferentes facções políticas, gente que agora se sente incomodada (e até fracassada) por não ver o país "no lugar que lhe cabe".
 
VP: Professor Jaime, muito obrigado pela atenção gentileza.
Jaime Pinsky:Agradeço a oportunidade neste veículo de comunicação.
Muito obrigado.


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