Questão nacional e marxismo – Referências na mídia
O livro Questão nacional e marxismo surgiu num momento em que tanto a questão nacional quanto o marxismo provocavam discussões acaloradas dentro e fora da academia. Sua grande contribuição foi trazer aos leitores textos de pensadores importantes, que procuraram refletir sobre o tema tendo em vista realidades históricas específicas, para serem lidos como se acompanha um debate de idéias. Esta coletânea de Jaime Pinsky despertou o interesse e mereceu resenhas de pesquisadores do porte de Florestan Fernandes e Manuel Corrêa de Andrade entre outros.
Resenha escrita por Manuel Correa de Andrade publicada no Diário de Pernambuco - Caderno Panorama Literário, Recife, 6 de fevereiro de 1981.
A questão nacional
O historiador paulista Jaime Pinsky vem se preocupando com a produção de livros de textos para uso nos cursos de superiores de graduação e de pós-graduação, a fim de suprir uma das grandes faltas na formação universitária brasileira. Tendo, ao lado do conhecimento histórico, uma boa e sólida formação filosófica e um pendor especial para a análise dos problemas políticos, fez convergir suas atividades e inquietações para certos temas específicos, como a questão judia, a estrutura da sociedade feudal e, mais recentemente, para o problema nacional. Nesta linha publicou, faz alguns anos, um livro de textos selecionados sobre o Modo de Produção Feudal, e agora, um novo trabalho intitulado Questão Nacional e Marxismo.
A questão nacional é um problema que aflige o mundo permanentemente e se aguçou desde que o ideal de W. Wilson de que as fronteiras políticas coincidissem com as fronteiras nacionais, não pôde se realizar, após a conclusão da I Guerra Mundial. A dissolução do Império Austro-Húngaro deu origem ao surgimento de países nacionais e países multi-nacionais, como a Tcheco-Eslováquia e a Yugoslávia etc. Esta questão traria grandes preocupações aos bolchevistas, após a Revolução Russa, quando tentaram manter a unidade do Império Tzarista na nova União Soviética. Geralmente, os países multinacionais se formam sob a égide do grupo mais forte, que impõe, de forma opressiva, ou através de uma série de concessões, a unidade, em nome de uma pátria maior; todas as vezes porém, em que há um enfraquecimento do poder central, as forças centrífugas se tornam mais fortes e tendem a forçar a desarticulação do sistema. Fatos já observados na Europa, nos velhos impérios como o Turco, o Austríaco, o Russo e, de forma ainda bem viva, na Espanha – questão dos Bascos e da Catalunha.
Modernamente, após a II Guerra Mundial, com a independência política dos países do Terceiro Mundo – África e Ásia, sobretudo – vemos ressurgir o velho problema, face ao fato de os novos países terem fronteiras que foram implantadas pelos países colonizadores, no período de dominação política e de que várias nacionalidades antagônicas terem tido o seu território dividido por uma fronteira, criando problemas de comunicação entre os nacionais de países diferentes. A Nigéria, com a hostilidade entre os huassa e os ibos, foi ensangüentada, durante anos, pela famosa Guerra de Biafra; na República sul-africana negros e brancos se digladiam em função de uma política, a do apartheid, que permite a um quinto da população de cor branca, dominar os quatro quintos restantes, de cor negra.
Pinsky, em seu livro, procura demonstrar como os autores marxistas, em um momento em que a Universidade vem discutindo muito a obra de Marx, têm encarado o problema, tanto do ponto de vista teórico, como prático, nos países em que conquistaram o poder ou naqueles em que, estando na oposição, tomam partido em favor ou contra as aspirações de determinados grupos nacionais. Os textos selecionados foram bem escolhidos e analisam problemas específicos, ligados a autores que viveram na várias décadas dos séculos XIX e XX.
Assim, pela obra, desfilam textos do próprio Marx sobre posições teóricas – nacionalismo e classes sociais – e sobre o caso específico da questão irlandesa; de Rosa de Luxemburgo sobre a questão polonesa; de Stalin sobre o problema nacional na União Soviética; de Mão Tse Tung sobre a China; de Ho Chi Minh sobre o Vietnam; de Joshua N´Komo sobre a crise rodesiana; de Kaled Bakdash sobre a questão árabe, ao lado de textos mais gerais de teóricos famosos como Karl Kaustsky, Otto Bawer, F. Engels, Zinoviev, Trotsky, Enver Hoxha, José Carlos Mariategui e Eric Hosbsbawn. A leitura destes textos, já selecionados de forma a dar uma visão global do problema, leva o leitor a formar uma idéia de conjunto, tanto do problema nacional, como da forma como os marxistas se posicionam frente ao mesmo.
Resenha escrita por Guerino Zago Júnior, publicada no jornal Movimento (nº 259), São Paulo, 1980.
A questão nacional em busca de definição
De Marx pra cá, em cada época um conceito
Vivemos um momento de reavaliação das análises, programas e ações passados. (...)
Nesse contexto, uma das questões teóricas a ser enfrentada é, certamente a questão nacional. Se ela não pode ser resolvida com uma batalha de citações, também não se pode desprezar os estudos anteriores da matéria. Principalmente quando são reflexões de pessoas engajadas nos mais diversos movimentos políticos. Nesse sentido, a coletânea de textos organizada pelo professor Jaime Pinsky, recentemente publicada, está destinada a desempenhar um papel importante.
O trabalho reúne textos de autores muito divulgados no país, como Marx, Engels, Lênin, Kautsky, Trotsky, Stálin e Mao, e preciosidades como um longo texto de Rosa Luxemburgo, inédito em português, e o artigo “A teoria dos três mundos” da redação do Diário do Povo, de Pequim. Há também textos de líderes de grandes movimentos nacionais, como Enver Hodja da Albânia, Ho chi Minh do Vietnã, Joshua N´Komo da ex-Rodésia e Khaled Bakdash do Partido Comunista Sírio. Da América Latina, encontram-se textos do marxista peruano José Carlos Mariategui e do V Congresso do PCB.
Não se trata, porém de uma “seleção conveniente” de textos para reforçar uma posição, sendo inúmeras as divergências (...)
O organizador confessa no prefácio seu objetivo de ter procurado demonstrar a historicidade das análises marxistas. De Marx a nossos dias a questão nacional assumiu feições diversas. Os diversos autores discutiram as nações oprimidas nos grandes impérios europeus, a possibilidade de construção do socialismo num só país, o caráter nacional da luta antiimperialista e, às vezes as três questões simultaneamente. (...)
Deve-se registrar a boa qualidade do livro: bem organizado, com textos cuidadosamente datados, referências biográficas dos autores e um índice remissivo, o que reflete profundo respeito ao leitor, tão raro atualmente.
O último texto, do historiador inglês Eric Hobsbaum, com certa dose de humor, lança essa advertência: “Não pintem o nacionalismo de vermelho”. A leitura e discussão do livro certamente contribuirão para se evitar esse e outros equívocos.
Resenha escrita por Florestan Fernandes, publicada no jornal Leia livros, agosto de 1980.
A questão nacional e o marxismo
A antologia, organizada por Jaime Pinsky sobre o tema (Questão Nacional e marxismo), representa um a contribuição muito importante para o momento histórico que vivemos. Independentemente do seu significado teórico dentro do marxismo, o tema volta a preocupar-nos porque corremos o risco de uma nova paralisação da esquerda (pelo menos de sua parte mais organizada e que conta com reconhecida tradição de luta) em virtude de uma má compreensão política da questão nacional. A antologia põe-nos diante de uma vasta produção intelectual e, na verdade, exibe todas as posições possíveis na relação da luta de classes com a revolução nacional da perspectiva das tarefas políticas do proletariado. (...)
O livro arrola trinta e oito leituras, algumas efetivamente clássicas, outras apenas típicas (e, de fato, as leituras típicas traduzem a realidade histórica de partidos e movimentos revolucionários que viveram e enfrentaram as várias alternativas do desenvolvimento capitalista no mundo moderno). Como o organizador da seleção teve coragem suficiente para aproveitar escolhas feitas anteriormente por G. Haupt, M. Lowy e C. Weill, em uma antologia sobre o mesmo assunto publicada em francês em 1974, temos uma excelente amostragem. O prefácio enuncia os critérios da escolha e de organização da antologia e resume a contribuição pessoal do organizador à localização e ao entendimento dos textos. Aí J. Pinsky adianta: “Quando concebemos esta coletânea, pensamos em separá-la em três momentos diferentes. Em primeiro lugar, apresentaríamos a discussão clássica sobre a questão nacional, que se confunde grandemente com o problema das nacionalidades nos antigos impérios czarista e austro-húngaro. Aí entrariam os textos de Kautsky, Rosa Luxemburgo, Otto Bauer, Lênin e Stálin. Em seguida, surgiria a discussão sobre a viabilidade do socialismo num único país, da contradição entre a necessidade internacionalização das forças produtivas que o socialismo exige e sua concentração política num só Estado. Aí colocaríamos os textos de Zinoviev, Stálin e Trotsky. Finalmente, levaríamos a questão das lutas de libertação nacional de caráter anticolonialista e antiimperialista. Aí teríamos textos de Mão-Tsé-tung, Ho Chi Minh, N´Komo, Mariategui e outros”. “Abandonamos a idéia. porque essa divisão, embora didática, provocaria uma visão excessivamente esquemática do problema. Com freqüência, os temas se confundem e, não raro, aparecem os três ‘momentos’ num único texto, razão pela qual optamos por outra solução: a de colocar, dentre os mais significativos teoricamente, os trabalhos de maior importância histórica” (p.9). (...)
Neste breve comentário gostaria de sugerir um “contexto de referência” de maior utilidade, exatamente, para o leitor que explorar as leituras com espírito didático. De um lado, está o tópico revolução nacional, ainda hoje crucial para o marxismo. De outro, está a pergunta: como a “questão nacional” deveria ser colocada a partir da América Latina e, em especial do Brasil? Em suma, duas reflexões de caráter geral, que merecem servir como fulcro das relações críticas dos leitores com os textos clássicos ou típicos, se os leitores forem marxistas... (...)
A importância dessas duas reflexões gerais é óbvia. Elas delimitam o grau de necessidade teórica e prática que satura uma antologia tão oportuna. Diante de temas como esses fica claro que o marxismo ainda tem muito que crescer como ciência e como práxis política revolucionária. O que se torna imperativo é aproveitar as leituras criticamente, de modo a abrir com elas o caminho para novas idéias e para a realidade histórica da revolução proletária no limiar do século XXI.
Resenha escrita por Gonçalves do Amaral, publicada no jornal Correio Popular, em 30 de maio de 1980.
O Livro da Semana: Antologia sobre a Questão Nacional e Marxismo
Textos inéditos das mais representativas posições teóricas e de prática social dentro do marxismo a respeito da superação da nacionalidade pelo movimento operário mundial estão reunidos nesta antologia - QUESTÃO NACIONAL E MARXISMO – que acaba de ser lançada pela Ed. Brasiliense. A seleção dos textos, sua organização e prefácio são da responsabilidade do Prof. Jaime Pinsky, do departamento de História da UNICAMP. O organizador realizou uma pesquisa exaustiva para levantamento dos textos, dos clássicos aos cientistas, ideólogos e militantes mais contemporâneos. Assim é que antologia apresenta páginas de Marx, Engels, Lênin, Trotsky, Stalin, Kautsky, Rosa Luxemburgo, Mao-Tsé-Tung, Ho Chi Minh, Hobsbawm, Mariategui, Khaled Bakdash, Anton Pannekoek e outros, incluindo teses sobre o nacionalismo no Brasil apresentadas pelo Partido Comunista Brasileiro. Um problema cruciante em todos os países – o nacionalismo – num mundo cada vez mais interdependente abordado de uma maneira inteligente, envolvendo conceitos como nação, nacionalidade, autodeterminação, lutas de classes, etc.