História da cidadania
Jornal da USP


Resenha de Sylvia Miguel publicada no Jornal da USP de 05 a 11 de maio de 2003.
 
Todas as esferas da cidadania
Tabu em alguns países, o conceito de cidadania encontra nuances diversas no tempo e no espaço. Para resgatar o significado do termo – tão desgastado nos dias atuais – e traçar um histórico sobre sua evolução, o historiador Jaime Pinsky reuniu numa obra de quase 600 páginas textos inéditos de 24 intelectuais brasileiros
 
            Em meio a guerras, terrorismo, violência e exclusão social, a noção de direitos civis alcança cada vez mais pessoas, nos mais diversos mundos. Mais do que nunca, o homem questiona seu direito à vida, à liberdade, à igualdade, à propriedade, à democracia, à saúde, à educação, a um salário justo, a uma velhice tranqüila – ou seja, seu direito à cidadania. Mais antiga do que muitos crêem ou sabem, a idéia de cidadania permeia a humanidade desde os tempos dos profetas sociais, que há quase 30 séculos já falavam em proteção aos despossuídos.
            Como a conhecemos, a cidadania nasceu de acontecimentos históricos mais recentes, com as revoluções burguesas e a separação de Poderes. Para buscar sua historicidade, demarcar as diferentes interpretações ao longo do tempo e identificar os elementos comuns presentes desde as diferentes interpretações ao longo do tempo e identificar os elementos comuns presentes desde os seus primórdios até os dias atuais, o historiador Jaime Pinsky e a esposa, Carla Bassanezi Pinsky, incumbiram 24 autores de uma missão: escrever ensaios exclusivos sobre o tema, o que resultou nas 591 páginas do livro História da cidadania, que acaba de sair pela Editora Contexto.
            Não se trata, portanto, de uma compilação de estudos previamente produzidos, o que já distingue História da cidadania e o torna um trabalho único. “Podemos dizer que foi uma obra escrita a 48 mãos. Nunca existiu um livro sobre a história da cidadania que fosse referência como esse nosso”, garante Pinsky, organizador desta que é a 20ª obra que leva a sua assinatura. Ex-livre-docente na USP e atualmente professor titular de História Antiga na Unicamp, o historiador conta que desde a concepção até a sua conclusão o livro levou dois anos para ficar pronto. “Partimos de um projeto predefinido. A partir disso, pautamos os autores, ou seja, já os convidamos com um tema previamente estabelecido”.
            Interessado pelo assunto há vários anos – já lançou, também pela Contexto, Cidadania e educação– Pinsky diz se preocupar com o lugar-comum que a definição de cidadania vem adquirindo nos últimos tempos, daí a idéia de lançar um livro a respeito. “O termo cidadania se espalhou a ponto de esvaziar seu conceito. Quando você vê anúncios publicitários identificando os mais diversos produtos com cidadania ou encontra uma escola em que a disciplina chamada cidadania ensina, na verdade, boas maneiras, é porque algo está errado. Se um conceito serve para tudo, ele não serve para nada. A minha preocupação foi resgatar a historicidade do conceito, traçar a sua teoria geral e sua prática concreta. Estudar a sua base, sua evolução no tempo e seus significados atuais”, diz o historiador, que já lançou entre outros, Origem do nacionalismo judaico, As primeiras civilizações e Escravidão no Brasil.
            Os textos inéditos assinados por grandes nomes da intelectualidade brasileira já receberam elogios rasgados das mais distintas autoridades políticas e jurídicas, garante Pinsky, que é também diretor editorial da Contexto. (...)